Um conto de Natal sobre Deus que vem ao mundo

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Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)

Vagávamos pelo mundo perdidos e sem pastor. As luzes que fumegavam estavam longe ou eram fracas; insuficientes para nos mostrar um caminho!

Gritos de desesperança e dor enchiam corações e cidades. Os pequenos custavam a caminhar na escuridão da noite.

Até a religião havia se escurecido no mundo. Leis absurdas eram forjadas por toda parte. Mantidas sob candelabros luminosos para oprimir os já fragilizados e encurvados sob o peso da própria existência. Éramos como caniços rachados e pavios apenas fumegando.

Havia uma profecia, referindo-se a um salvador que não quebraria o caniço rachado nem apagaria o pavio já fraco de chamas (Is 42,3). Era uma profecia sobre Deus que vem ao mundo. Ele não gritaria nem levantaria a voz, mas sem amolecer e sem oprimir traria justiça à terra. Essa é a profecia, cujo cumprimento celebramos todos os anos.

A profecia virou história há dois mil e vinte dois anos e habitou entre nós.

Sua luz foi vista primeiro por pastores que trabalhavam durante a noite (Lc 2,8). Trabalho duro dos que trocam a normalidade da vida pelo pão que sustenta a vida. Os primeiros de nós a receberem a notícia eram bucólicos e viviam no ermo. Cuidando das ovelhas e vagueando. A eles o encorajamento inicial: “não tenhais medo”! Eu vos anuncio uma grande alegria (Lc 2,10).

Assim, foi dada a primeira notícia que Deus já estava em nosso meio. Coragem e alegria enchem a terra. O mundo sente que pode finalmente se transformar. Lá no ermo soubemos do nascimento do Salvador.

A eles, pastores, pobres e trabalhadores foi anunciada a boa notícia. A eles, e a todo o povo, como soubemos em seguida. Por isso damos "Glória no mais alto dos céus".

Coragem e alegria são bens que depois de encontrados não se pode mais viver sem eles. O milagre do nascimento foi anunciado por anjos, mas depois de ouví-los, os pastores e também nós, sentimos no coração: “vamos a Belém, para ver o que aconteceu lá”, e fomos!

Encontramos um menino deitado, seu pai José e sua mãe Maria lhe ladeava. O milagre de todo nascimento gera comoção e esperança no futuro humano, mas aquele era diferente. Era a realização da maior esperança de todas, a esperança de um dia ver Deus face a face.

No menino deitado num berço de feno o milagre arrancado das páginas profundas da Sagrada Escritura, coevo desde sempre, nos consolou com a sua presença, e nós nunca mais ficamos solitários.

Desde aquele dia, dia que encontramos a Luz, que as trevas deixaram de nos assustar. Temos coragem para enfrentar todo tipo de coisa. As batalhas mais difíceis, coisas presentes e futuras, a vida e a morte entram em nosso horizonte de enfrentamento e não nos aterrorizamos mais. Tudo se apequenou porque soubemos que Ele estava entre nós!

O dia do seu nascimento, nos contaram mais tarde, foi iluminado por uma estrela especial que apareceu no céu. O seu brilho ladrilhou o caminho e aplainou as veredas para todos os bons de corações.

Quem teve audácia de se guiar por ela não pode mais duvidar da esperança. De início era só um recém nascido deitado num berço de feno, mas iluminado pelo brilho da estrela que guiou alguns de nossos irmãos até lá, ficamos sabendo que era o próprio Deus despojado de si, bem ali, como um de nós. É Natal!

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