A Ressurreição como resposta

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Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)

O coração humano se dispersa com facilidade. Nem os mais bem intencionados escapam desta tentação.

Em Marcos 9,34, Jesus disse aos seus discípulos: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão”, e depois acrescentou: “Mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará”.

O próprio são Marcos nos esclarece que os discípulos não entenderam bem, principalmente o que queria dizer ressurreição! Entretanto, parecem ter desviado o foco, e passaram a discutir quem seria o maior no Reino que estava por vir.

O modo de resolver as coisas do mundo a partir do próprio mundo já não é mais promissor.

Jesus recomenda que grandes poderes e riquezas não são capazes de criar harmonia e paz. Ao contrário, se observarmos bem, foram eles que fizeram do mundo um lugar pior. É ilusão, pois, acreditar que mais dinheiro, poder e fama, serão capazes de endireitar os caminhos e aprumar os objetivos. Aliás, a promessa de dinheiro, sucesso e poder vem da tentação do demônio, e não de Deus (Mt 4, 1-11)!

A Ressurreição, portanto, é um caminho promissor que os discípulos não entenderam naqueles dias do passado distante, e que penamos também nós hoje em dia.

Ao apontar a lógica de que menos neste mundo é mais no Reino de Deus, Jesus abre o corredor para uma realidade nova. Diferente de tudo que já vimos ou experimentamos. Não é o superlativo da condição presente, mas algo de totalmente novo. Tão novo como Ele mesmo.

Tentar acesso a ao Reino com o valor do metal é inútil. Há uma outra senha para abrir as suas portas.

Há um amontoado de pistas deixadas ao longo dos Evangelhos que nos ajudam a descobri-las. São várias as senhas, mas todas correlacionadas com amor, justiça, amizade, lealdade, compaixão. Mas, como ainda estamos no mundo, somos tentados a pensar que a senha é outra.

Assim, abre-se um caminho paralelo que conduz o pensamento para o enfraquecimento das verdades da fé; até que, ela mesma se torne quase que uma lembrança pávida do horizonte nostálgico de um mundo que desapareceu.

Surgem novas senhas para a Graça e a Paz! Pessoas, grupos e igrejas surgem nesta intercorrência temporal com promessas que já não dizem respeito ao Reino, nem mesmo ao próprio Cristo. Têm o novo testamento, mas, estranhamente já não são mais cristãs. Nem Jesus nem o Reino se enquadram em suas perspectivas. Apelam para o judaísmo ou para o cinismo total, e ainda assim, encontram seguidores.

Foi desse mal que Jesus preservou os seus discípulos. Os grandes deste mundo buscam todo tipo de poder, disse Ele, mas entre vocês não deve ser assim!

Quando Jesus disse que Ressuscitaria, e os seus interpretaram isso como continuação deste mundo e desta história, imediatamente foram corrigidos. A vida eterna não é o prolongamento infinito de nossos dias como conhecemos hoje. Não é o esticamento do tempo até o limite de todas as condições pensáveis e impensáveis. A Ressurreição é adentrar-se na realidade de Deus, onde tempo e eternidade se misturam numa coisa só. Onde a noção de espaço desaparece e, na contemplação de Deus, encontraremos a perfeição de todas as coisas e ficaremos extasiados, desejando e possuindo toda beleza através da eternidade.

Na Ressurreição, o físico e metafísico serão finalmente uma coisa só. A música, a pintura, a unidade e a pluralidade serão finalmente conciliadas. Nós teremos a nossa visão alargada ao ponto que tudo fará sentido. O que foi, o que é e o que será, serão finalmente uma coisa só. Contempladas por dentro e por fora causará quietude e movimento eterno no ressuscitado. E, por trás deste acontecimento todo, veremos Deus perfeitamente plausível e ainda mais disponível ao nosso amor e a nossa contemplação. Essa é uma aposta que todos precisamos fazer retomar o caminho da paz e ajustar o mundo, pois quem ganhar a própria vida vai perdê-la, mas quem perdê-la por causa de Cristo, Ressuscitará.

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