Deus e a tempestade

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Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)


Na barca da vida, que balança entre lutas e labutas, é onde encontramos Deus. Numa passagem bastante conhecida e simbólica dos Evangelhos, quase uma pintura sublime, faz ver os apóstolos na parte dianteira de um barco, enfrentando uma tempestade violenta, enquanto Jesus dormia na parte
posterior.

Na água, como sabemos, a segurança torna-se instável e a falta de firmeza se impõe como perigo para à vida. Desde sempre foi assim. A água é o lugar que precisamos de algo mais para nos sustentar. Assim foi com Pedro quando ousou caminhar sobre ela. Assim foi com os egípcios quando decidiram adentrá-la sem a permissão de Deus. A água é figura de nossas instabilidades. A tempestade que se avolumava é descrita como aterrorizante, mas o que estava para se revelar era ainda maior.

Voltemos um instante para o início da consolação de Jó, quando o Senhor se digna a responder às suas inquietações.

É do meio da tempestade que o Senhor responde a Jó (38,1). A sua voz se impõe sobre os estrondos avolumados das intempéries, e Deus diz: “Quem fechou o mar com portas, quando ele jorrou com ímpeto do seio materno, quando eu lhe dava nuvens por vestes e névoas espessas por faixas; quando marquei seus limites e coloquei portas e trancas”? (38, 8-10).

É Deus quem põe fim a arrogância do mar e da tempestade. Deus sozinho fica de pé e de pé dá prosseguimento à história. A história humana, necessita que Deus fique de pé. Como nos dias antigos, cantados na harmonia dos Salmos, os humanos estavam desamparados, “Mas
gritaram ao Senhor na aflição, e ele os libertou daquela angústia. Transformou
a tempestade em bonança, e as ondas do oceano se calaram (Sl.106).

A história se repete desde sempre. As tempestades nos rodeiam e buscam nos devorar. Naquele dia, ela também cercou o barco dos apóstolos, que ainda não haviam compreendido bem quem caminhava com eles. Entretanto, ao acordarem Jesus e perguntarem se ele não se importava porque estavam para perecer ante a majestade do mar, os discípulos pareciam esperar ver algo que olhos ainda não haviam visto.

Ficando de pé no meio deles, Jesus “ordenou ao vento e ao mar: "Silêncio! Cala-te!" O ventou cessou e houve uma grande calmaria” (Mc 4,39). Em seguida Jesus os repreendeu por tamanha falta de fé. Mas os discípulos não se importaram. Eles sentiam um medo maior, pois como homens da Galileia conheciam a história de Deus, e sabiam também, ser Deus o único que pode acalmar as tempestades.
Os apóstolos que sentiram medo diante da tempestade, sentiram, em seguida, “um grande medo”, e se perguntavam: “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?” (Mc. 4,41).

O medo que se multiplicou é normal diante da majestade de Deus. Nós não temos uma explicação razoável para entender tamanha proximidade. Muito menos a sua amizade e interesse por nós.

Essa lacuna na lógica humana é preenchida por um sentimento que não vem de nós, mas em nós encontra acolhimento, o amor. Então os apóstolos e a humanidade alegraram-se “ao ver o mar tranquilo”, e ao porto desejado serem conduzidos. Agradecidos, agradeçamos ao Senhor por seu amor e suas maravilhas, por ter suplantado o nosso temor e o medo do mar (cf. Sl. 106).

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