A grande esperança

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Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)

Começou como começa tudo de grande, com um murmúrio. Depois de dias terríveis algumas mulheres correram logo cedo ao túmulo onde tinham depositado o corpo de Jesus.

Alarmadas com o vazio do lugar procuram todo tipo de explicação, mas a verdade mesma, não conseguiram abarcar por inteira. Entretanto, quando muitos afirmaram que Ele estava morto, alguns de nós insistiram dizendo: vamos esperar para ver!

Esperar contra toda esperança, foi o modo encontrado para não desfalecer daqueles que conviveram muito de perto com o Senhor.

Acontece que Ele foi visto depois disso, como relataram diversas testemunhas. Foi visto vivo como sempre, mas possuindo outra forma. Às vezes sua luz ofuscava os olhos que o encaravam; outras vezes revestido de outro senhorio era anunciado por anjos e mensageiros; mas fato é que, depois do terceiro dia, começávamos a acreditar que a terra não nos engoliria e que a Ressurreição não era impossível.

Durante os dias desse interlúdio voltamos a vagar como ovelhas desgarradas, cada um seguindo o seu próprio caminho. Diante das primeiras notícias que ele estava vivo, preferimos cautela, pois estávamos vendo algo que nunca tinha sido narrado, e conhecendo coisas que nunca tínhamos ouvido (Is 52).

Depois de três dias terríveis começou a correr um sussurro de que Jesus estava vivo. Murmurava-se por toda a parte que mais uma vez Ele caminhava no meio de nós. O ano de graça do Senhor estava se estendendo indefinidamente, mas essa notícia, como uma chama, terá que se aproximar de outras chamas, e um coração de outro coração, até que se abrasem por inteiro.

Maria Madalena e a outra Maria foram as primeiras a trazerem a notícia de havê-Lo visto. Elas contaram que viram a pedra do túmulo se despedaçar diante de seus olhos; anjos lhe disseram que Jesus havia Ressuscitado, como predito antes. Convidou-as a não terem medo e que as mandou contar também aos discípulos.

Enquanto voltavam para casa os múrmuros se tornaram fato, pois elas disseram terem visto o Senhor. E, que dEle, receberam duas recomendações: “alegrar-se” e a “não terem medo”!

Coragem e alegria são as duas companheiras da esperança. De fato, elas caminham juntas desde a há muito tempo. O testemunho da esperança só se materializa na coragem e na alegria de quem espera. Enquanto a coragem é a força que mantém viva a esperança a alegria é o pagamento de sua realização.

Aqueles que ousaram esperar, até agora, podem finalmente receber o júbilo de ver a sua esperança realizada.

Sendo coisa mais forte que o medo, a esperança supera os obstáculos que são impostos à alma. Até aquele dia já era sabido que enquanto houvesse vida haveria esperança, mas essa barreira foi rompida, pois a vida que lhe foi tirada, agora novamente devolvida, nos diz que ela, a esperança, é ainda mais. Talvez ela ultrapasse o limiar da própria vida, e se estenda para outro lugar. Um lugar cujas portas ainda estamos tentando abrir.

Se a esperança pudesse dizer o que sente, o infinito se desvelaria e o eterno seria compreensível. É por isso que Deus ama tanto a esperança. As mulheres, que ousaram esperar mais, foram às primeiras a verem o Senhor Ressuscitado. Amaram o amor primeiro e foram retribuídas.

Esse sussurro que começou a crescer no início do terceiro dia, foi gestado ao longo de inúmeros outros sussurros. Essa esperança grande que se concretizou na madrugada do Domingo, é o resultado maior do que a soma de todas as outras esperanças. Ela ultrapassa a soleira do próprio esperar, e não podendo originar-se em nós mesmos, embora em nós tenha começado, Deus mesmo vem ao nosso encontro, para dizer que a injustiça da morte foi vencida.

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