Estamos em paz com Deus

0

Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)

Escrevendo aos Romanos São Paulo dá uma boa notícia: “estamos em paz com Deus, pela mediação do Senhor Nosso, Jesus Cristo” (Rm 5,1).

Encontrar a paz não é fácil. Ela é forjada no fogo ardente dos muitos encontros que vamos testemunhando pela vida. O mais trágico dos desencontros se dá na ruptura com Deus; advinda, principalmente, a causa do pecado e endurecimento do coração! Mas essa fratura foi recomposta, pois “quando ainda éramos fracos, Cristo morreu pelos ímpios”.

A paz com Deus produz efeitos e rompe cadeias! Supera tradições belicosas e abre perspectiva de harmonia entre nós!

Tudo o que pensamos fazer para Deus deve ser feito também com os irmãos. Pois amar o irmão que se vê deveria ser mais fácil do que amar a Deus que não se vê, com já nos alertou São João.

É por isso que Jesus, Senhor e distribuidor da paz, muito surpreendeu ao encontrar-se com aquela mulher samaritana no poço de Jacó (Jo 4,6).

A ruptura entre os judeus e os samaritanos é conhecida desde há muito tempo nas páginas do Evangelho e até antes. Ao se dirigir àquela que vinha tirar água do poço Jesus lhe cura duas feridas; cura que não deixou de ser observada por ela, que começava a experimentar o agradável gosto da paz. Mas não antes sem espanto, como ela mesma exclama: “como é que tu, que sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou uma mulher samaritana?” (Jo 4,9). Em causa duas questões, ser mulher e samaritana. Mas Jesus não entra em pormenores, não faz distinção de pessoas nem se acanha diante de tradições falidas. Não é o que ela é para Deus que importa, mas o que Deus é para ela, e para nós, que define a cura das rupturas.

Da incredulidade inicial, de quem começa duvidando das coisas simples, a mulher passa a se interessar por aquilo que Jesus tem a oferecer. Uma água que mata a sede de uma vez por todas é um desejo e um ganho milagroso; mas logo ela entende se tratar de algo mais. A começar daqui de baixo ela põe o problema mais trágico da discordância entre judeus e samaritanos: o lugar onde se deve adorar a Deus! De fato, uns dizem que é em Garizim, na Samaria, pois os samaritanos acreditam que Garizim é o lugar escolhido por Deus para a construção do templo, ao contrário dos judeus, que consideram Jerusalém como o local sagrado para o templo. Dessa discordância terrena nascia uma luta que começava aqui e se estendia até as coisas mais sagradas, bradava ao próprio Céu, e não deixava ninguém em paz!

Jesus remenda essa ruptura, corrige a própria história da religião, e faz um anuncio definitivo: “acredite-me mulher – está chegando a hora em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorarei o Pai” (Jo 4,21).

Ele rompe, de uma vez por todas, as cadeias que tentavam aprisionar a Deus em limites determinados. Gerando privilégios e exclusões por toda parte. Jesus mostra que não é o templo o mais importante. Ele havia proposto reconstruí-lo adequadamente, caso fosse demolido, e nos fez ver como o samaritano podia ser bom, ao tomá-lo como forma exemplar de uma parábola.

Tendo abolido os lugares privilegiados de culto, Jesus centraliza em nós essa responsabilidade. Deus é amor, é, portanto, no amor que Ele se encontra; Deus é Espírito, é, portanto, no Espírito humano que faz sua morada. E Jesus permaneceu mais dois dias com os samaritanos, e lhes deu a paz! A mesma paz que agora experimentamos por sua mediação, apesar de ainda sermos pecadores.

Comments are closed.