Unção dos Enfermos: um sacramento de cura e alívio para nossas enfermidades

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O sofrimento e a doença são inerentes à condição humana, por isso é missão da Igreja como “Mãe e Mestra” acompanhar seus “filhos” em todos os momentos de sua existência, principalmente nos momentos de doença. Portanto, a mandato do apóstolo São Tiago (5,14-15) é função da Igreja, representada na pessoa de seus presbíteros, ungir os doentes com o santo óleo dos enfermos e rezar por eles; daí temos o sacramento da unção dos enfermos.

Contudo, ao longo dos séculos, a forma de administrar tal sacramento foi variando, a começar pelo seu nome, sendo que até o Concílio Vaticano II, em 1962, chamava-se “extrema unção” desde a época carolíngia. A antiga nomenclatura causava e continua ainda hoje, a trazer um certo temor em meio aos fiéis, principalmente entre aqueles que não foram bem catequisados; pois estes acabam por associar de maneira equivocada e negativa, a ideia de que este sacramento prepara necessariamente à iminente morte do fiel que se encontra enfermo.

A exemplo de Jesus Cristo que sempre teve um carinho todo especial para com os possuídos, cochos e doentes, a Igreja no seguimento de Cristo tem como missão, deixada pelo Mestre, acompanhar seus membros em todos os momentos de sua existência terrena, principalmente na instabilidade trazida pela doença.

Para transmitir esse cuidado eclesial para com os doentes, a Igreja recebeu do próprio Jesus, um sacramento especialmente destinado aos enfermos, assim como nos diz o apóstolo São Tiago: “Se alguém dentre vós está enfermo? Que chame os presbíteros da Igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração feita com fé salvará o doente: o Senhor o levantará, e se ele tiver pecados, será perdoado.” (cf. Tg 5,14-15). 

O óleo é útil e se relaciona com a doença desde a Antiguidade, como nos atesta o Antigo Testamento, basta lermos Is 1,6. O apóstolo São Tiago, como já foi mencionado, e também o evangelho de São Marcos, narram episódios nos quais os apóstolos se valendo do óleo, ungiam e curavam os enfermos (Cf. Mc 6,13). Portanto, a Igreja herdou dos apóstolos o costume de ungir os enfermos com óleo.

Todo sacramento é composto de dois elementos que unidos entre si formam o próprio sacramento; a saber, matéria e forma. De acordo com o Código de Direito Canônico vigente, o sacramento da unção dos enfermos se dá mediante a unção com o óleo e proferindo as palavras prescritas nos livros litúrgicos. É necessário ressaltarmos que na falta do óleo de oliveira, pode-se usar outro tipo de óleo, desde que seja de origem vegetal. Não tendo óleo já abençoado pelo bispo, o presbítero mesmo pode abençoá-lo no momento da celebração do sacramento.

No que se refere à prática cotidiana da maioria dos casos costumeiros em que os sacerdotes são chamados a administrar o sacramento, costuma-se usar o denominado “Rito Ordinário” que corresponde ao capítulo II do Ritual vigente. Tal rito apresenta várias opções de celebração para a unção dos enfermos, podendo ser celebrado ou dentro ou fora da Missa, e até mesmo de forma comunitária em grandes reuniões de fieis.

Quando falamos em chamar o sacerdote para administrar o sacramento a um parente ou amigo que se encontra enfermo, infelizmente ainda vemos pessoas que se assustam. A impressão que temos é de que ainda exista um certo temor de caráter supersticioso em relação ao sacramento dos doentes, por se tratar de um caso não isolado, mas muito comum entre um número significativo dos fiéis. Consequentemente, é indispensável uma abordagem mais cuidadosa acerca do assunto nos diversos âmbitos de nossa práxis catequética na tentativa de uma solução mais eficaz no que se refere à compreensão e vivência deste sacramento.

A unção dos enfermos proporciona ao enfermo, a força espiritual e a cura física, se esta for proveitosa, à salvação do mesmo, pois trata-se de um sacramento que confere ao fiel doente a graça do Espírito Santo, contribuindo para o bem do ser humano por inteiro, reanimando-o pela confiança em Deus e fortalecendo-o contra as tentações e aflições da morte; de modo que possa não só suportar, mas também combater o mal, e conseguir, se for conveniente, a sua salvação espiritual, a própria cura. Vale ressaltar que a unção dos enfermos é um, dentre os dois sacramentos chamados de “cura” pela doutrina católica, por isso este sacramento proporciona também, em último caso, o perdão dos pecados e a consumação da reconciliação cristã.

Portanto, a partir de Cristo, chagado e sofrido, Ele que “tomou sobre si nossas enfermidades”, na condição de cristãos, somos convidados a refletir sobre a enfermidade como espaço, não em sentido geográfico, mas espaço no sentido existencial, de salvação e encontro com o Senhor.

Pe. João Mariano da Silva Netto
Pároco da Paróquia São Pedro, em Arenópolis

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