Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos
A narrativa da Páscoa tem início quando a fraqueza humana é corrigida na esperança nova de Cristo. Ao se dirigirem para o túmulo, as mulheres que haviam comprado perfume para ungir o corpo de Jesus se depararam com uma impossibilidade, e exclamaram: “Quem vai remover a pedra da entrada do túmulo”? (Mc 16,3).
Era uma grande pedra, e, com sua imensidão, impedia aquelas que ali chegaram primeiro de realizar a sua missão. Aquelas que haviam desafiado a dor e o sofrimento para cumprir as suas obrigações, ainda que com corações dilacerados pela morte do Senhor, estavam impedidas de seguirem adiante.
Entretanto, o grito desafiador que ecoou mais tarde na boca dos cristãos: onde está, ó morte, a tua vitória? (1Cor 15,55), não é trapaça semântica para fazer parecer o que não foi. É constatação profunda de um fato que fez forte quem era fraco e enviado quem antes se escondia com medo da morte.
A solução para a impossibilidade humana aparece quando a morte é desafiada. Ela se mostra nas narrativas evangélicas depois da Ressurreição. No caso em questão de Marcos 16,3, antes que o espanto se tornasse arredia limitação, a pedra já havia sido retirada. Não era mais pedra de tropeço nem impedimento para que espíritos generosos realizassem suas tarefas.
O espírito da Páscoa, portanto, é esse, ante os desafios supremos à nossa condição, a morte inclusa, Jesus nos dá a solução. Removeu a pedra do túmulo, deu peixe aos discípulos, antes que Lhe apresentassem o resultado da pesca, e encheu os corações de confiança e amor para uma realização que parecia impossível.
A nova vida, contudo, realiza-se apenas se for vivida como vida nova. A conclusão dos Evangelhos se abre na perspectiva de completude para o testemunho de fé na Ressurreição. A começar por Mateus, em cuja conclusão Jesus ordena àqueles que acreditaram irem pelo mundo inteiro, fazerem discípulos e batizarem. Testemunho que se segue na conclusão de Marcos, onde de maneira espontânea, os discípulos foram anunciar a Boa Nova por toda parte. A grande alegria que preencheu os corações no Evangelho de Lucas, abre a missão nos Atos dos Apóstolos: “homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu?” (1,11), indicando que a Ressurreição não é apenas contemplação, mas ação que encoraja e produz o fundamento de tudo que deve ser anunciado; afinal, se Jesus não Ressuscitou, vã é a nossa fé, gritará São Paulo mais tarde, e vã a nossa pregação.
A crença daqueles que não viram é a missão deixada no Evangelho de João. Ao declarar bem-aventurados os que não viram, mas crerão, Jesus transmite a missão a todos nós, que com fé e confiança, coragem e alegria, devemos testemunhar que a Vida venceu a morte! A nova vida que recebemos na Ressurreição de Jesus se concretiza na disposição de quem a acolhe como dom de encorajamento para vivê-la e anunciá-la aos irmãos; por isso mesmo, fazendo novas todas as coisas, passa a viver uma vida diferente, aos olhos do mundo, uma vida nova que supera as impossibilidades humanas.