Certíssima Esperança

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Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)

No vasto cenário de O Senhor dos Anéis, a esperança não se apresenta como um estandarte triunfante, mas como uma chama pequena que resiste ao vento. Há momentos em que parece quase se extinguir nas brumas de Mordor; ainda assim, permanece, silenciosa, firme, quase tímida, mas invencível. Galadriel, com sua voz de luz, recorda: “Mesmo a menor pessoa pode mudar o curso do futuro”. É como se dissesse que a força verdadeira não se mede pela lâmina da espada, mas pela coragem de seguir caminhando quando o caminho parece sem saída.

Na Escritura, essa lógica encontra eco no livro da Sabedoria (18,6-9), onde a esperança nasce numa noite em que Israel se vê cercado pelo poder do Egito. É noite de opressão, mas também de promessa. O povo não é chamado a se armar, mas a confiar. E é essa confiança que o conduz à libertação.

Jesus, no Evangelho (Lc 12,32-48), retoma essa mesma perspectiva, ao dizer: “Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino”.

Não é palavra de consolo, mas um decreto silencioso de vitória. O Reino não é um projeto que se constrói pela força humana, mas dom irrevogável que brota da generosidade de Deus. Por isso, a esperança não é fragilidade exposta ao vento. Ela tem raiz cravada na terra fértil da promessa divina.

A vigilância do discípulo não nasce do receio de perder algo, mas da alegria de quem espera alguém. Vigiar, no Evangelho, não é esperar com ansiedade. É, bem mais transformar o tempo da demora em tempo fecundo, tecido de fidelidade e amor. Quem ama, espera, e espera com alegria.

Os grandes mestres da fé entenderam esse mistério. Santo Agostinho escreveu que “esperar é já amar” (Enarrationes in Psalmos), como quem afirma que a esperança é um amor lançado para o amanhã. Tomás a descreve como “tensão firme por um bem futuro, difícil, mas possível com a ajuda de Deus” (Suma Teológica, II-II, q.17). E Bento XVI, em Spe Salvi, proclama: “Quem tem esperança vive de modo diferente; foi-lhe dada uma vida nova”.

Na caminhada de Frodo rumo à Montanha da Perdição, não é o vigor físico que o sustenta! É uma luz que o guia. E, embora pequena, essa luz é maior que a grande sombra.

Assim também vive o católico. De um lado, guardamos a memória da libertação já recebida; de outro, contemplamos a promessa de um encontro ainda por vir. A esperança é mais forte que a morte porque se apoia naquele que já venceu a morte. É mais que otimismo humano, é certeza nascida da fidelidade divina. É força que atravessa gerações, sustenta os pobres, renova a Igreja e abre caminhos onde antes só havia muros.

Hoje, a Palavra ressoa clara: “Não tenhais medo”! A esperança não se apaga porque Deus não se retrata. É ela, e não a força bruta, que carrega o mundo nos ombros. É a virtude que ousa esperar quando tudo parece perdido, porque sabe que o Senhor vem. E, quando Ele vier, será como a aurora que rompe a noite mais longa do mundo.

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