Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
Ao escrever aos Filipenses, São Paulo explica por que deixou de ser perseguidor dos cristãos para se tornar o mais convicto entre os apóstolos no mundo inaugurado por Cristo.
A razão é uma só: Jesus Cristo! “Por causa dele, eu perdi tudo”, afirma ele. Trata-se de uma perda definitiva, pois quem a experimenta não busca recuperar o que deixou para trás. Esse, aliás, é um perigo constante no discipulado frágil de convicção: abandonar tudo por Cristo, mas, ao longo do caminho, recuperar o que foi deixado.
Não basta renunciar a tudo; é preciso também desenvolver certo desgosto pelo que foi deixado. Por isso, Paulo gritou: “Considero tudo como lixo, para ganhar Cristo e ser encontrado unido a Ele” (Fl 3,8).
Essa trajetória assemelha-se ao caminho espiritual e à repugnância que o peregrino sente em relação ao pecado. Santo Inácio de Loyola recomenda, nos Exercícios Espirituais, que o penitente peça a graça de sentir aversão pelos próprios pecados, para não retornar a eles constantemente.
Ao considerar tudo como lixo, São Paulo adquire um desprezo por tudo o que não é Cristo ou não provém dele. Cristo assume a primazia em sua vida de tal forma que toda dúvida desaparece, tornando-o um apóstolo destemido, marcado por uma coragem pastoral sem precedentes entre os seguidores do Caminho.
As coisas tornaram-se insignificantes diante da “vantagem suprema que consiste em conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor”, afirma ele.
À medida que cresce o desapego pelo mundo, o espírito se dirige para Cristo. E, nessa corrida, a maior descoberta espiritual é que já fomos alcançados por Ele. Isso não significa soberba espiritual, mas uma verdade que transforma a vida. Não que já tenhamos atingido a estatura espiritual ideal, mas, como Paulo diz: “Corro para alcançá-lo, visto que já fui alcançado por Cristo Jesus” (Fl 3,12).
Não por acaso, São Paulo compara a vida cristã à de um atleta. A disciplina espiritual exige a mesma determinação da disciplina corporal: “correr direto para a meta”. Também não foi por acaso que Santo Inácio nomeou seu método de vida interior como “Exercícios espirituais”.
Correr sem se desviar até atingir a meta. Uma corrida sem distrações, sem tempo para questões tolas, sem espaço para desvios que possam retardar a chegada à linha final e ao prêmio supremo: Cristo.
O atleta, ao correr, esquece tudo, até mesmo as dores do treinamento. Ele precisa de foco e considera importante apenas cruzar a linha de chegada. É por isso que Isaías exortava: “Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos” (Is 43,18). Uma sabedoria bíblica que ilumina a jornada espiritual e molda a vida do discípulo.
São Paulo reconheceu essa verdade ao afirmar: “Uma coisa, porém, eu faço: esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está à frente” (Fl 3,13), tudo por causa d’Ele.