O futuro da Igreja e a Igreja do futuro

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A Igreja de Jesus Cristo está sempre pronta para atravessar águas calmas, mares revoltos e dar razão da sua esperança.

Ela tem no DNA a divindade do próprio Cristo que faz correr em suas veias a chama viva do Espírito Santo, de modo que, com sapientia cordis, intui o futuro como nenhuma outra instituição é capaz de fazê-lo.

De posse dessa sabedoria e de sua fundação divina, Ela vive no tempo com o olhar para a eternidade, de onde advém sua compreensão aprofundada da realidade e do coração humano.

A sua longevidade já a fez compreender as coisas em sua circularidade e antecipar os próximos círculos através de sua visão profética do mundo.

Sendo assim, o futuro é o da Igreja, como o único futuro possível. Como bem nos relembrou o teólogo Karl Rahner, o único futuro que faz algum sentido é o futuro que aponta para fora da história, sob pena de redundância e tédio.

Acertando este quesito, precisamos circunstanciar, entretanto, sobre a Igreja do futuro. Aliás, nada de espetacular, pois a própria Igreja do presente já foi a Igreja do futuro em algum momento.

As distorções históricas nascidas da precariedade do mundo fazem a Igreja buscar sua correção com os três cajados que possui: a fé, a esperança e a caridade. Em cada tempo se exige mais de uma dessas virtudes.

A fé parece ter se estruturado a tal ponto, neste novo milênio, de modo a exigir de nós uma observação e acerto para a sua verdadeira natureza. Exigindo dela que, enquanto virtude, seja também capaz de operar na vida quotidiana e transformar a sociedade.

A caridade gerou e vem gerando inúmeros frutos neste milênio. Suas ramificações se espalham no modo contemporâneo de agir, principalmente nas relações horizontais de preocupação básica com os irmãos, nas ordens religiosas, nos movimentos espontâneos de pessoas e organizações que se se colocam diariamente a serviço dos outros e do mundo.

A esperança, entretanto, parece ser a virtude que necessitará de cuidados especiais neste nosso tempo.

No tempo em que o mundo é sabedor de quase todas as coisas, a aceleração, como bem nos lembrou o Papa Francisco, espalhou-se na sociedade e no coração da Igreja. O sentimento de urgência tem levado cada um a se dedicar na busca de seus anseios imediatos, descuidando, por vezes, do necessário e do duradouro. Essa é uma trapaça que pode nos envolver a todos, escondida, inclusive, nas melhores das intenções.

Embora são Paulo diga que o Amor é paciente, a paciência também se aplica a Esperança. O abandono de quem espera se realiza na mais alta confiança da providência, esse conceito escondido de nossa fé, que precisa ser retirado do baú de vez em quando.

Restaurar a esperança se coloca no horizonte atual da Igreja com a máxima relevância. Essa missão diz respeito aquela intuição vista no desenrolar do pós-concílio, a partir do auxílio que a Igreja deve prestar ao mundo e a cada pessoa. Um mundo que se apresenta ao mesmo tempo poderoso e débil.

Se o tempo de pandemia que desafia a todos durante este ano, aparece como um ponto crucial para a leitura da realidade e de reorganização das atividades, sabemos também que as situações que já se arrastavam há algum tempo, apenas se concentraram num evento unificador e catalizador das angústias humanas. Onde um sinal forte de esperança já era requisitado há muito mais tempo.

A Igreja de Cristo, enquanto ela mesma ajuda o mundo e dele recebe muitas coisas, sente também essa necessidade de propor a grandeza da liberdade como meta humana. Uma grandeza que não pense mais, tão somente, ligar as pontas do futuro com as do passado, como se tudo continuasse a partir do momento que foi interrompido, algo mais parecido com uma distopia que propriamente com a esperança.

Andar pra frente e propor as soluções a partir dos gestos simples e pequenos com resolutos testemunhos de que sempre haverá esperanças e alegrias, mesmo se obscurecidas pelas tristezas e angústias, é o futuro aberto para Igreja.

Elucidar que a sorte da comunidade humana está unificada em um só destino é essencial. É essa a esperança que a Igreja se vê desafiada a abrir, até que o Senhor venha e restaure todas as coisas.

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